Sou do fado
Como sei
I live a sung poem
Of a fado that I invented.
A falar
Não posso dar-me
but I pour my soul into singing
and souls know how to listen to me.
Weep, weep,
poets of my country,
trunks of the same root
of life that has joined us together.
And if you all
weren’t at my side,
then there would be no fado,
or fadistas like me.
This most
afflicted voice
is all your fault,
poets of my life.
It’s madness,
I hear you say,
but blessed be this madness
of singing and suffering.
Weep, weep,
Poets of my country,
trunks of the same root
of life that has joined us together.
And if you
weren’t at my side,
then there would be no fado,
or fadistas like me.
Sou do fado
Como sei
Vivo um poema cantado
De um fado que eu inventei
A falar
Não posso dar-me
Mas ponho a alma a cantar
E as almas sabem escutar-me
Chorai, chorai
Poetas do meu país
Troncos da mesma raíz
Da vida que nos juntou
E se vocês
não estivessem a meu lado
Então não havia fado
Nem fadistas como eu sou
Esta voz
tão dolorida
É culpa de todos vós
Poetas da minha vida
É loucura,
ouço dizer
Mas bendita esta loucura
de cantar e de sofrer
Chorai, chorai
Poetas do meu país
Troncos da mesma raíz
Da vida que nos juntou
E se vocês
não estivessem a meu lado
Então não havia fado
Nem fadistas como eu sou
Ah, the souls of poets,
no one understands them;
They’re the souls of violets,
who are poets, too.
They wander lost through life,
like stars in the air;
they feel the wind groan,
they hear the roses weep!
Only those who wrap up
Bitter and secret pains in their heart,
Can understand poets
On moonlit nights.
E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém,
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!
Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.
Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!
Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas
E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!
The common things in life
leave no nostalgia,
only the memories that hurt
or make you smile.
There are people que fica na história
Da história da gente
And others nem o nome
Lembramos ouvir
São emoções que dão vida
À saudade que trago,
The ones that I had with you
and ended up losing.
There are days that leave a mark
On people’s lives and souls,
And the day that you left me is one
That I can’t forget.
The rain wet
my frozen and tired face,
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera
Oh, meu choro de lost girl
I shouted at the city,
the fire of love in the rain
Há instantes morrera
The rain heard and hid
My secret from the city
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade
As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir
Há gente que fica na história
Da história da gente
E outras de quem nem o nome
Lembramos ouvir
São emoções que dão vida
À saudade que trago
Aquelas que tive contigo
E acabei por perder
Há dias que marcam a alma
E a vida da gente
E aquele em que tu me deixaste
Não posso esquecer
A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera
Ai, meu choro de moça perdida
Gritava à cidade
Que o fogo do amor sob a chuva
Há instantes morrera
A chuva ouviu e calou
Meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade
She’s a fishwife, wears pashmina,
She moves like a cat.
A jellyfish in her basket,
A frigate in her heart.
A jellyfish in her basket,
A frigate in her heart.
Seagulls come to perch on her shawl,
Instead of crows.
When the wind takes her to dance,
She dances her dance with the sea.
When the wind takes her to dance,
She dances her dance with the sea.
Her dress is made of shells,
She has seaweed in her hair.
And in her veins, the cry
Of a fishing boat’s engine.
And in her veins, the cry
Of a fishing boat’s engine.
She sells sleep and sea spray,
She heralds storms,
Her first name - Maria,
Her surname - Lisbon,
Her first name - Maria,
Her surname - Lisbon.
É varina, usa chinela,
Tem movimentos de gata
Na canastra, a caravela,
No coração, a fragata
Na canastra, a caravela,
No coração, a fragata
Em vez de corvos no xaile
Gaivotas vêm pousar
Quando o vento a leva ao baile,
Baila no baile com o mar
Quando o vento a leva ao baile
Baila no baile com o mar
É de conchas o vestido
Tem algas na cabeleira
E nas veias o latido
Do motor duma traineira
E nas veias o latido
Do motor duma traineira
Vende sonho e maresia,
Tempestades apregoa,
Seu nome próprio - Maria,
Seu apelido - Lisboa
Seu nome próprio - Maria
Seu apelido - Lisboa
This fado’s yours and mine,
The fate that binds us
Por mais que seja negado
the cords of a guitar.
Sempre que se ouve um gemido
of a guitar when it sings,
Fica-se logo lost
with an urge to cry.
Oh, people of my land,
now I understand
this sadness that I carry within me
was one I received from you.
E pareceria ternura
Se me deixasse embalar,
My bitterness would be greater
and my singing, less sad.
Oh, people of my land,
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que a recebi
Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Esta tristeza que trago
Foi de vós que a recebi
É meu e vosso este fado
Destino que nos amarra
Por mais que seja negado
Às cordas de uma guitarra
Sempre que se ouve um gemido
De uma guitarra a cantar
Fica-se logo perdido
Com vontade de chorar
Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi
E pareceria ternura
Se me deixasse embalar
Era maior a amargura
Menos triste o meu cantar
Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que a recebi
Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Esta tristeza que trago
Foi de vós que a recebi
If my closed soul
could be laid bare,
and what I suffer in silence
could be told,
everyone would see
how miserable I am,
how I feign happiness,
how I weep when I sing...
May God forgive me
if it’s a crime or a sin
but that’s how I am,
and in fleeing to fado,
I was fleeing from myself.
I cry out in song
and nothing hurts me,
Then if it’s a sin
to love fado,
may God forgive me.
When I sing, I don’t think
about how bad life is,
I don’t even belong to myself,
Nem o mal se me dá.
Chego a querer a verdade
E a sonhar - sonho imenso -
All is happiness
And sadness has gone.
Se a minha alma fechada
Se pudesse mostrar,
E o que eu sofro calada
Se pudesse contar,
Toda a gente veria
Quanto sou desgraçada
Quanto finjo alegria
Quanto choro a cantar...
Que Deus me perdoe
Se é crime ou pecado
Mas eu sou assim
E fugindo ao fado,
Fugia de mim.
Cantando dou brado
E nada me dói
Se é pois um pecado
Ter amor ao fado
Que Deus me perdoe.
Quanto canto não penso
No que a vida é de má,
Nem sequer me pertenço,
Nem o mal se me dá.
Chego a querer a verdade
E a sonhar - sonho imenso -
Que tudo é felicidade
E tristeza não há.
There’s a party in Mouraria,
it’s the day of the procession
of the Lady of Health.
Even Rosa Maria,
from Rua do Capelão,
seems virtuous.
Fine quilts in the windows,
Loose petals on the ground,
Pious souls, rough people.
Anda a fé through the alleys,
It’s the day of the procession
Of the Lady of Health.
After a short rumor,
Profundo silêncio pesa,
Por sobre o Largo da Guia.
Passa a Virgem no andor,
Everyone kneels and prays,
Even Rosa Maria.
As if turned to stone,
In fervent prayer,
Her attitude is such,
That the defoliated rose,
Da Rua do Capelão,
Seems virtuous.
Há festa na Mouraria,
É dia da procissão
Da Senhora da Saúde.
Até a Rosa Maria,
Da Rua do Capelão,
Parece que tem virtude.
Colchas ricas nas janelas,
Pétalas soltas no chão,
Almas crentes, povo rude.
Anda a fé pelas vielas,
É dia da procissão
Da Senhora da Saúde.
Após um curto rumor,
Profundo silêncio pesa,
Por sobre o Largo da Guia.
Passa a Virgem no andor,
Tudo se ajoelha e reza,
Até a Rosa Maria.
Como que petrificada,
Em fervorosa oração,
É tal a sua atitude,
Que a rosa já desfolhada,
Da Rua do Capelão,
Parece que tem virtude.
Minha terra d'água, ao cair da mágoa
Aconteça estarmos sós
E a minh'alma faz-se voz
P'ra contar que as penas
Das águas serenas que o teu fado quis
My country.
My pátria d'água, os meus olhos afago
A quem mil noites te sonhei
And in a thousand fados, I sang to you
My land of water,
Ao cair da mágoa, por ti, sou feliz
My country.
My land of water, ao cair da mágoa
Aconteça estarmos sós
E a minh'alma faz-se voz
P'ra contar que as penas
Das águas serenas que o teu fado quis
My country.
Minha terra d'água, ao cair da mágoa
Aconteça estarmos sós
E a minh'alma faz-se voz
P'ra contar que as penas
Das águas serenas que o teu fado quis
Meu país
Minha pátria d'água, os meus olhos afago
A quem mil noites te sonhei
E em mil fados, te cantei
Minha terra d'água,
Ao cair da mágoa, por ti, sou feliz
Meu país
Minha terra dágua, ao cair da mágoa
Aconteça estarmos sós
E a minh'alma faz-se voz
P'ra contar que as penas
Das águas serenas que o teu fado quis
Meu país
Listen here, Mr. Wine,
Vai responder-me, mas com franqueza
Porque é que tira toda a firmeza
From anyone in your way?
After drinking one too many glasses,
Even mild-mannered people,
Amigo vinho, em desalinho
Your lordship makes them crawl!
É mau procedimento
E há intenção naquilo que faz
Entra-se em desequilíbrio
Não há equilíbrio que seja capaz
The laws of physics fail
E a vertical in any place
Oscila sem se deter
E deixa de ser perpendicular
Eu já fui, the wine replies
The loose leaf dancing in the wind
I was a ray of sun in the firmament
That brought the grape, doce carinho
I still preserve the sun’s heat
And thus even give life
Aumento o valor seja de quem for
Na boa conta, weight and measure.
E só faço mal a quem
Me julga ninguém
and underestimates me,
Whoever treats me like water,
É ofensa, pay for it!
That’s the way I am.
Your Lordship is right
and it is ungrateful
to speak ill of wine
And to prove what I say,
come on, my friend,
let’s have another glass!
Oiça lá ó senhor vinho
Vai responder-me, mas com franqueza
Porque é que tira toda a firmeza
A quem encontra no seu caminho?
Lá por beber um copinho a mais
Até pessoas pacatas
Amigo vinho, em desalinho
Vossa mercê faz andar de gatas!
É mau procedimento
E há intenção naquilo que faz
Entra-se em desequilíbrio
Não há equilíbrio que seja capaz
As leis da Física falham
E a vertical de qualquer lugar
Oscila sem se deter
E deixa de ser perpendicular
Eu já fui, responde o vinho
A folha solta a bailar ao vento
Fui raio de Sol no firmamento
Que trouxe a uva, doce carinho
Ainda guardo o calor do Sol
E assim eu até dou vida
Aumento o valor seja de quem for
Na boa conta, peso e medida
E só faço mal a quem
Me julga ninguém
E faz pouco de mim
Quem me trata como água
É ofensa, pago-a!
Eu cá sou assim
Vossa mercê tem razão
E é ingratidão
Falar mal do vinho
E a provar o que digo
Vamos, meu amigo
A mais um copinho!
I close my eyes and sing
And I sing just for you
I pour out my voice and the pranto
That sings to you the I way I do,
Is for you and you alone.
I pour out my voice and … pranto
That sings to you the I way I do,
Is for you and you alone.
Dou à guitarra e ao xaile
Caminhos de Santiago
The dust blinds me in this valley,
Just to spite me, the wind
Lights fires that I have to put out,
The dust blinds me in this valley
Just to spite me, the wind
Lights fires that I have to put out.
Há tanta melodia, tanta
That the wind brings us feelings,
Sinfonias que me encantam
Parece às vezes que cantam
Fados of forbidden love.
Sinfonias que me encantam
Parece às vezes que cantam
Fados of forbidden love.
Eu trago a estrada da vida
Guardada in my hand
Que pensa perder-se na ida
Com medo de não ter partida
Within my heart.
Que pensa perder-se na ida
Com medo de não ter partida
within my heart.
Fecho os meus olhos e canto
E canto só para ti
Derramo a voz e o pranto
Que te canta como eu canto
É por ti e só por ti
Derramo a voz e o pranto
Que te canta como eu canto
É por ti e só por ti
Dou à guitarra e ao xaile
Caminhos de Santiago
Cega-me o pó neste vale
Que o vento só por meu mal
Acende fogos que apago
Cega-me o pó neste vale
Que o vento só por meu mal
Acende fogos que apago
Há tanta melodia, tanta
Que o vento traz nos sentidos
Sinfonias que me encantam
Parece às vezes que cantam
Fados de amores proibidos
Sinfonias que me encantam
Parece às vezes que cantam
Fados de amores proibidos
Eu trago a estrada da vida
Guardada na minha mão
Que pensa perder-se na ida
Com medo de não ter partida
Dentro do meu coração
Que pensa perder-se na ida
Com medo de não ter partida
Dentro do meu coração
Hopefully,
my fado won’t sadden you
Meu astro signo real
Nasceste ao mar acostado
in the far west.
You lit up the sky
with your golden light
Espada que outrora ergueste
and which, today, is almost nothing,
mystical, golden light.
Hopefully,
my fado won’t sadden you,
My real star sign,
Nasceste ao mar acostado
In the far west.
Devolve o meu anseio
Canto-te a flor da voz
Your whole destiny
And hopefully...
My fado won’t sadden you
My real star sign
Dormindo ao mar acostado
Acorda Portugal
Oxalá
Não te entristeça meu fado
Meu astro signo real
Nasceste ao mar acostado
No extremo ocidental
O céu iluminaste
Com tua luz dourada
Espada que outrora ergueste
E que hoje é quase nada
Mística luz dourada
Oxalá
Não te entristeça meu fado
Meu astro signo real
Nasceste ao mar acostado
No extremo ocidental
Devolve o meu anseio
Canto-te a flor da voz
O teu destino inteiro
E oxalá...
Não te entristeça meu fado
Meu astro signo real
Dormindo ao mar acostado
Acorda Portugal
They’re crazy! They’re crazy! Crazy.
I know, my love,
that you haven’t left,
because everything around me
tells me you’re always with me.
I know, my love,
that you haven’t left,
because everything around me
tells me you’re always with me.
De manhã, que medo, que me achasses feia!
I woke up, trembling, lying on the sand
But then your eyes said that you hadn’t [gone]
And the sun flooded into my heart.
But then your eyes said that you hadn’t [gone]
And the sun flooded into my heart.
Vi depois, numa rocha, a cross
And your black boat was dancing in the light,
I saw your arm signalling, amidst the loosened sails.
The old women of the beach say you’re not coming back.
They’re crazy! Crazy.
I know, my love,
That you haven’t left,
Because everything around me
Tells me you’re always with me.
I know, my love,
That you haven’t left,
Because everything around me
Tells me you’re always with me.
In the wind that scatters sand against the glass,
In the singing water, in the dying fire,
In the heat of the bed, on the empty benches,
In my heart, you’re always with me,
In the heat of the bed, on the empty benches,
In my heart, you’re always with me.
Eu sei, meu amor
Que nem chegaste a partir
Pois tudo em meu redor
Me diz que estás sempre comigo
Eu sei, meu amor
Que nem chegaste a partir
Pois tudo em meu redor
Me diz que estás sempre comigo
São loucas! São loucas! Loucas
Eu sei, meu amor
Que nem chegaste a partir
Pois tudo em meu redor
Me diz que estás sempre comigo
Eu sei, meu amor
Que nem chegaste a partir
Pois tudo em meu redor
Me diz que estás sempre comigo
De manhã, que medo, que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada na areia
Mas logo os teus olhos disseram que não
E o sol penetrou no meu coração
Mas logo os teus olhos disseram que não
E o sol penetrou no meu coração
Vi depois, numa rocha, uma cruz
E o teu barco negro dançava na luz
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia que não voltas
São loucas! Loucas
Eu sei, meu amor
Que nem chegaste a partir
Pois tudo em meu redor
Me diz que estás sempre comigo
Eu sei, meu amor
Que nem chegaste a partir
Pois tudo em meu redor
Me diz que estás sempre comigo
No vento que lança areia nos vidros
Na água que canta, no fogo mortiço
No calor do leito, nos bancos vazios
Dentro do meu peito, estás sempre comigo
No calor do leito, nos bancos vazios
Dentro do meu peito, estás sempre comigo
Eu sei, meu amor
Que nem chegaste a partir
Pois tudo em meu redor
Me diz que estás sempre comigo
Eu sei, meu amor
Que nem chegaste a partir
Pois tudo em meu redor
Me diz que estás sempre comigo