INSTRUMENTAL
The boat’s departing.
Farewell Alfama Pier!
If I have to leave now,
I’m bringing you with me, green cane.
Remember me, my love,
remember me on this adventure
beyond madness,
beyond the equator.
Ah! mas que ingrata ventura bem me posso queixar
Of the homeland a pouca fartura
Cheia de mágoas, ai quebra mar
With so many dangers, ai minha vida
With so many fears and alarms
Que eu já vou aos saltos,
Que eu vou de fugida
Without telling that hidden story,
Por servir de criado that lady
Serviu-se ela também tão sedutora
It was a sin,
It was a sin,
And it was a sin, yes sir,
What a good life I had in Lisbon.
Gingão de roda batida
a corsair without a crusade,
To the sound of the mandado dance,
In lands of pepper and wonder,
With dreams of silver and fantasy,
with dreams da cor do arco-íris
you’ll hallucinate if you see them,
you’ll hallucinate magic.
I’ve unfurled the sail,
A shameless Marrano,
A Jew sem coisa sem fronha
I’m going on a voyage, oh what a start,
I see only colors, oh, what joy!
I see only pirates and treasures,
São silver, são gold
São nights, days
Vou no espantoso trono das águas
Vou no tremendo blowing of the winds,
I rise above my thoughts
arrepia
arrepia
and arrepia, yes sir,
Oh, what a good life I had in Lisbon!
O mar das águas ardendo
O delírio of the heavens,
A fúria do barlavento
Arreia the sail and vai marujo ao leme
The boat turns and the sailor falls into the sea,
The boat turns on the curve of death,
Look at my fate
Olha o meu azar
And after the ship’s turned,
Great shouts and roars,
Na salvação of the afflicted,
Esfola, mata, agarra
Ah, who can help me?
Pray, plead, escape
Ai que pagode
pray, heroes and eunuchs tremble,
They’re Moors, they’re Turks,
They’re Moors, help!
That’s a terrible storm,
Aquilo vai p´ra lá do que é eterno
That was a portrait of hell,
It’s sinking to the bottom,
it’s sinking to the bottom,
and it’s sinking to the bottom, yes sir.
Oh, what a good life I had in Lisbon!
O barco vai de saída
Adeus ó cais de alfama
Se agora vou de partida
Levo-te comigo ó cana verde
Lembra-te de mim ó meu amor
Lembra-te de mim nesta aventura
P´ra lá da loucura
P´ra lá do equador
Ah! mas que ingrata ventura bem me posso queixar
Da pátria a pouca fartura
Cheia de mágoas ai quebra mar
Com tantos perigos ai minha vida
Com tantos medos e sobressaltos
Que eu já vou aos saltos
Que eu vou de fugida
Sem contar essa história escondida
Por servir de criado a essa senhora
Serviu-se ela também tão sedutora
Foi pecado
Foi pecado
E foi pecado sim senhor
Que vida boa era a de Lisboa.
Gingão de roda batida
Corsário sem cruzado
Ao som do baile mandado
Em terras de pimenta e maravilha
Com sonhos de prata e fantasia
Com sonhos da cor do arco-íris
Desvairas se os vires
Desvairas magia
Já tenho a vela enfunada
Marrano sem vergonha
Judeu sem coisa sem fronha
Vou de viagem ai que largada
Só vejo cores ai que alegria
Só vejo piratas e tesouros
São pratas são ouros
São noites são dias
Vou no espantoso trono das águas
Vou no tremendo assopro dos ventos
Vou por cima dos meus pensamentos
Arrepia
Arrepia
E arrepia sim senhor
Que vida boa era a de lisboa
O mar das águas ardendo
O delírio dos céus
A fúria do barlavento
Arreia a vela e vai marujo ao leme
Vira o barco e cai marujo ao mar
Vira o barco na curva da morte
Olha a minha sorte
Olha o meu azar
E depois do barco virado
Grandes urros e gritos
Na salvação dos aflitos
Esfola, mata, agarra
Ai quem me ajuda
Reza, implora, escapa
Ai que pagode
Reza tremem heróis e eunucos
São mouros são turcos
São mouros acode
Aquilo é uma tempestade medonha
Aquilo vai p´ra lá do que é eterno
Aquilo era o retrato do inferno
Vai ao fundo
Vai ao fundo
E vai ao fundo sim senhor
Que vida boa era a de lisboa.
Farewell, my love.
Take care.
If grief is a thorn
Que espeta sozinho
Do outro lado
Meu bem desvairado
Tão aflito
If grief is mercy
Que desfaz o nó
And lets out a cry,
An evil look,
A wicked sin,
E a saudade is uma espera
É uma aflição
If it’s spring,
É um fim de Outono
Um tempo morno
It’s almost summer
In mid-winter
É um abandono
Porque não me vês
Seaspray,
Se a dor é um ciúme
Que espalha um perfume
Que me agonia
come and see me, my love,
in secret.
If grief is a sea,
Louco a transbordar
Our path
Quase a espraiar
Quase a afundar
E a saudade é uma espera
It’s an affliction,
If it’s spring,
É um fim de Outono
Um tempo morno
It’s almost summer
In mid-winter
É um abandono
Meu amor adeus
Tem cuidado
Se a dor é um espinho
Que espeta sozinho
Do outro lado
Meu bem desvairado
Tão aflito
Se a dor é um dó
Que desfaz o nó
E desata um grito
Um mau olhado
Um mal pecado
E a saudade é uma espera
É uma aflição
Se é Primavera
É um fim de Outono
Um tempo morno
É quase Verão
Em pleno Inverno
É um abandono
Porque não me vês
Maresia
Se a dor é um ciúme
Que espalha um perfume
Que me agonia
Vem me ver amor
De mansinho
Se a dor é um mar
Louco a transbordar
Noutro caminho
Quase a espraiar
Quase a afundar
E a saudade é uma espera
É uma aflição
Se é Primavera
É um fim de Outono
Um tempo morno
É quase Verão
Em pleno Inverno
É um abandono
I jump in the darkness,
I carry a knife in my teeth
and in my eyes coloridos
I swear
Come and see the fire in the sea,
The burning fish,
Ana, come and see,
Ana, come and see,
Ana, come and see.
Voando em arco
Esgueiro o corpo num balanço
Como um piloto do inferno, assalto
Nas asas guerreiras of an angel
Seja louvado
Atacamos mui baralhados
Like a endiabrado
By Jesus on his cross,
Weep for me, my princess,
Escorre sangue heaven and earth,
Ah pois, however holy it may be,
War is war.
Malacca, Malacca,
War is war,
In heaven and earth,
Nos dentes a faca
I advance and advance,
War is war,
In heaven and on earth,
Balanço, balanço
Cruzado cruzado
War is war,
In heaven and on earth,
O mais enfeitado
Largar largar
Fire in the sea.
Seja bendito
De todos o mais enfeitado
look at me, the greatest warrior in action,
look at me, your beloved,
and heaven burning,
Ana, come and see,
Ana, come and see,
Ana, come and see.
Boats in rising flames,
Parecia coisa sonhada queimados
The horrid cries of a wounded beast,
E lá dentro ardiam trapped men
E cá fora à cutilada
butchered p'la calada
Pelos peitos já desfeitos
Cry for me, my princess,
Escorre sangue o céu e a terra
Ah, however holy it may be,
war is war.
Foge saloio
Eh parolo
Aguenta António de Faria
E a fidalguia
Todo o massacre
E todo o desconsolo
Coja Acém’s coming
and the burning sea,
Oh, Ana, come and see.
Oh, Ana, come and see.
Oh, Ana, come and see.
The pirate bids us farewell, o labrego
De cima of that mast,
Trocista e airoso
Mostrando o traseiro cafre
The black darkness of a negro,
Taking away our leather and treasure
Rindo de gozo
All the rest was lost na molhada
Pelo estrondo na quebrada
No edema da gangrene,
Weep for me, my princess,
Escorre sangue heaven and earth,
Ah pois however holy it may be,
War is war.
Salto no escuro
Entre dentes trago a faca
E nos meus olhos coloridos
Juro
Vem ver o fogo no mar
Os peixes a arder
Ó Ana vem ver
Ó Ana vem ver
Ó Ana vem ver
Voando em arco
Esgueiro o corpo num balanço
Como um piloto do inferno, assalto
Nas asas guerreiras de um anjo
Seja louvado
Atacamos mui baralhados
Como um bando endiabrado
Por Jesus na sua cruz
Chora por mim ó minha infanta
Escorre sangue o céu e a terra
Ah pois por mais que seja santa
A guerra é a guerra
Malaca Malaca
A guerra é a guerra
No céu e na terra
Nos dentes a faca
Avanço e avanço
A guerra é a guerra
No céu e na terra
Balanço, balanço
Cruzado cruzado
A guerra é a guerra
No céu e na terra
O mais enfeitado
Largar largar
O fogo no mar
Seja bendito
De todos o mais enfeitado
Olha p'ra mim o mais guerreiro ao vivo
Olha p'ra mim o teu amado
E o céu a arder
Ó Ana vem ver
Ó Ana vem ver
Ó Ana vem ver
Barcos em chamas erguidas
Parecia coisa sonhada queimados
Os gritos horrendos da besta ferida
E lá dentro ardiam homens encurralados
E cá fora à cutilada
Decepados p'la calada
Pelos peitos já desfeitos
Chora por mim ó minha infanta
Escorre sangue o céu e a terra
Ah pois por mais que seja santa
A guerra é a guerra
Foge saloio
Eh parolo
Aguenta António de Faria
E a fidalguia
Todo o massacre
E todo o desconsolo
Que já lá vem o Coja Acém
E o mar a arder
Ó Ana vem ver
Ó Ana vem ver
Ó Ana vem ver
Diz-nos adeus o pirata, o labrego
De cima daquele mastro
Trocista e airoso
Mostrando o traseiro cafre
Preto escuro de um negro
Levando-nos coiro e tesouro
Rindo de gozo
Perdeu-se o resto na molhada
Pelo estrondo na quebrada
No edema da gangrena
Chora por mim ó minha infanta
Escorre sangue o céu e a terra
Ah pois por mais que seja santa
A guerra é a guerra
The darkness is very great,
the weather’s really cold,
the sea’s very rough,
the wind’s very stiff,
the waters are cruzadas
As vagas levantadas
Eh bruto, cut down those masts for me,
Steady the stern and turn the prow,
Ajusta-me esses calabretes
Baldeia fazendas à toa
Unload that deck,
Arms leap,
Feet fly,
Vomitam pragas in the bustle,
bodies shot to pieces,
Dão à costa
Pela encosta
We bewail our perdition,
Dando muitas bofetadas
Against ourselves, yes sir,
Metidos in a pool of water,
We shout a prayer to the Savior.
The darkness.
Salve-se agora quem puder
Por entre wounded and afflicted
Nas costas bathed in blood,
… atabões and mosquitos bite,
The dumb shout,
The deaf hear,
Em trejeitos absurdos
Um marinheiro de cabeça toda aberta
C'os miolos todos podres quase inerte
Num boeiro
Ai que cheiro
and he hugged me and then expired
Com provas de good Christian,
O que muito nos consolou
Não ter de o levar às costas
Enterrado
Abençoado lá ficou
The darkness
Estando nós in great danger,
Num enorme desvario
Two sailors swam
E a pouco mais de meio rio
Arremeteram conta eles
two giant lizards
that tore them both to pieces,
Com a qual vista ficámos assombrados
Ai socorro
Oh, I’m dying,
Livra que nos fomos logo a pique
And subitamente ao fundo
Com um negro pela mão
so astonished and silent,
but inside, he’s singing plainchant.
O escuro é muito grande
O tempo é muito frio
O mar é muito grosso
O vento é muito rijo
As águas são cruzadas
As vagas levantadas
Eh bruto corta-me esses mastros
Aguenta a popa e vira a proa
Ajusta-me esses calabretes
Baldeia fazendas à toa
Descarrega esse convés
Saltam braços
Voam pés
Vomitam pragas num estardalhaço
Os corpos atirados em pedaços
Dão à costa
Pela encosta
Choramos a nossa perdição
Dando muitas bofetadas
Em nós próprios sim senhor
Metidos num charco de água
Gritamos uma reza ao Salvador.
O escuro
Salve-se agora quem puder
Por entre feridos e aflitos
Nas costas banhadas em sangue
Mordem atabões e mosquitos
Gritam mudos
Ouvem surdos
Em trejeitos absurdos
Um marinheiro de cabeça toda aberta
C'os miolos todos podres quase inerte
Num boeiro
Ai que cheiro
E abraçado a mim logo expirou
Com provas de bom cristão
O que muito nos consolou
Não ter de o levar às costas
Enterrado
Abençoado lá ficou
O escuro
Estando nós em grande perigo
Num enorme desvario
Nadaram dois marinheiros
E a pouco mais de meio rio
Arremeteram conta eles
Dois lagartos muito grandes
Que os esfarraparam todos em bocados
Com a qual vista ficámos assombrados
Ai socorro
Ai que eu morro
Livra que nos fomos logo a pique
E subitamente ao fundo
Com um negro pela mão
Tão pasmado e caladinho
Mas lá por dentro a cantar o cantochão
Como se a Terra corresse
Inteirinha behind me
Fear besieges my senses,
beneath my skin,
Ao esgueirar-se viscoso
Escorre pegajoso
and leaves
through my pores,
Pelos meus ais
Ele penetrates my bones,
Ao derramar-se sedento
Nas entranhas sinuosas
Entre as vísceras mordendo
Salta e espalha-se no ar
It comes and goes,
Delirious,
So delirious,
It’s like a living dream.
That annointed figure,
Rolling in the mud,
A deslizar de uma larva
Emergindo lá no fundo
I’m afraid, oh Fear,
take it all, it’s all yours,
but let me go.
Arrasta-me à côncava do fundo
from the great lake of night,
Cruzando as grades of fire
between Heaven and Hell
Até à boca escancarada
Mouth
Behind me,
Behind me,
It’s like a living dream,
Those eyes in the darkness
Of the wailing widows,
Murdered by his father,
disemboweled by his son,
Que possuiu lascivo
his own mother
and his lover.
My love, when I die,
Ó linda
Veste a mais garrida saia
If I die on the high seas,
Ó linda
And I want to see you on the beach,
Mas afasta-me those voices,
Linda
You’re afraid of the living
and the dead, ..
Pelos pés and hands
E p´lo pescoço e pelos peitos
Até ao fio do lombo
How your flesh trembles,
Fernão Mendes.
Como se a Terra corresse
Inteirinha atrás de mim
O medo ronda-me os sentidos
Por abaixo da minha pele
Ao esgueirar-se viscoso
Escorre pegajoso
E sai
Pelos meus poros
Pelos meus ais
Ele penetra-me nos ossos
Ao derramar-se sedento
Nas entranhas sinuosas
Entre as vísceras mordendo
Salta e espalha-se no ar
Vai e volta
Delirante
Tão delirante
É como um sonho acordado
Esse vulto besuntado
A revolver-se no lodo
A deslizar de uma larva
Emergindo lá no fundo
Tenho medo ó medo
Leva tudo é tudo teu
Mas deixa-me ir
Arrasta-me à côncava do fundo
Do grande lago da noite
Cruzando as grades de fogo
Entre o Céu e o Inferno
Até à boca escancarada
Esfaimada
Atrás de mim
Atrás de mim
É como um sonho acordado
Esses olhos no escuro
Das carpideiras viúvas
Pelo pai assassinado
Desventrado por seu filho
Que possuiu lascivo
A sua própria mãe
E sua amante
Meu amor quando eu morrer
Ó linda
Veste a mais garrida saia
Se eu vou morrer no mar alto
Ó linda
E eu quero ver-te na praia
Mas afasta-me essas vozes
Linda
Tens medo dos vivos
E dos mortos decepados
Pelos pés e pelas mãos
E p´lo pescoço e pelos peitos
Até ao fio do lombo
Como te tremem as carnes
Fernão Mendes
We watch everything in silence on the coastline,
De olhos na noite hanging from the fainting sky;
Ah, new October moon, you bring the rains and winds,
A alma a segredar, your mouth muttering torments!
Descem de clouds de assombro mullets and catfish,
Se as aves embalam the fish in certain miracles;
The body rises up from the soul, no choro of litanies,
In the prayers of the damned, in the plagues of the besieged,
On the island of thieves, who escapes?
And carry this message to the pier:
São penas, são sinais. Farewell.
Free me from the hunger that consumes me, from this cold;
Livra-me do mal of that animal que é este cio;
Free me from fate and, if you can, abençoado
Leva-me a mim to fly through the air!
Como se houvesse um encanto, a strange magic,
The sun slowly floats nas margens of the day.
Undress my privateer’s body, dry out my mariner’s veins,
Morde-me o peito aos ais, das brigas, daggers,
who leaves the island of thieves?
And carry this message to the pier:
São penas, são sinais. Farewell.
We go naked and barefoot, lovers, thirsty,
If the veil of night se deita na curva do tempo.
Oh, new October moon,
Our fears are fears of rains and winds,
Da alma a segredar, of the murmuring mouth.
Goodbye.
Olhamos tudo em silêncio na linha da praia
De olhos na noite suspensos do céu que desmaia;
Ai lua nova de Outubro, trazes as chuvas e ventos,
A alma a segredar, a boca a murmurar tormentos!
Descem de nuvens de assombro taínhas e bagres
Se as aves embalam os peixes em certos milagres;
Levita-se o corpo da alma, no choro das ladainhas,
Na reza dos condenados, nas pragas dos sitiados,
Na ilha dos ladrões, quem sai?
E leva este recado ao cais:
São penas, são sinais. Adeus.
Livra-me da fome que me consome, deste frio;
Livra-me do mal desse animal que é este cio;
Livra-me do fado e se puderes abençoado
Leva-me a mim a voar pelo ar!
Como se houvesse um encanto, uma estranha magia,
O sol lentamente flutua nas margens do dia.
Despe o meu corpo corsário, seca-me a veia maruja,
Morde-me o peito aos ais, das brigas, dos punhais,
Da ilha dos ladrões, quem sai?
E leva este recado ao cais:
São penas, são sinais. Adeus.
Andamos nus e descalços, amantes, sedentos
Se o véu da noite se deita na curva do tempo.
Ai lua nova de Outubro,
Os medos são medos das chuvas e ventos,
Da alma a segredar, da boca a murmurar
Adeus
Ó ai meu bem how the dancer dances,
Ó meu amor a caravela também
Ó bonitinha ai que é das penas, que é das mágoas
Sendo nós like a sardine
Flying atop the waters.
Vai de roda quem quiser
E diga o que tem a dizer (Certo!)
I’ve dreamt for many, many years por esta hora chegada
De Lisboa para a Índia vou agora de abalada
Mas em frente de Sesimbra
Then, a French buccaneer
Nos atirou para Melides
Com o barco feito em três
E por Deus e por El-Rei
Que grande volta que eu dei
Oh, it’s so beautiful, oh, it’s so beautiful,
Oh, it’s so beautiful, oh, it’s so beautiful.
Ó ai meu bem how the dancer dances,
Ó meu amor a caravela também
Ó bonitinha ai que é das penas, que é das mágoas
Sendo nós like the sardine,
flying over the crest of the waters.
Ena que alegria enorme
Uns mais ou menos conforme (Certo!)
Mas que terras maravilha mais parece uma aguarela
Que eu vejo da minha barca branca, blue and yellow
A Lua dormia ali e com o Sol é tal namoro
The mountains were pregnant and bore silver and gold,
With Jesus in his heart, Fernão ..
Oh, it’s so pretty, oh, it’s so pretty,
Oh, it’s so pretty, oh, it’s so pretty.
Ó ai meu bem how the dancer dances,
Ó meu amor a caravela também
Ó bonitinha ai que é das penas, que é das mágoas
We’re like a sardine
A voar por cima das águas
Mais cuidado no bailado
Que andamos tão baralhados (Of course!)
I’ve never ssen bichos medonhos tão soltos e atrevidos
Que nos fomos logo a pique c'o bafo dos their grunts
E todo nu sobre um penedo de mãos postas a rezar
'Té me tremiam as carnes por os não ter no lugar
'Inda por cima a chover vejam lá o meu azar
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó ai meu bem como baila o bailador
Ó meu amor a caravela também
Ó bonitinha ai que é das penas, que é das mágoas
Sendo nós como a sardinha
A voar por cima das águas
Eh valente rapazinho
A cantar ao desafio (Certo!)
I killed Moors, malabares quem foi à guerra fui eu
I sank great fleets, nunca ninguém me venceu
But when I saw a Moor’s arse, foi tal susto grande e forte
that I pissed myself half to death,
Siga a roda sem parar, people are going to fly!
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó ai meu bem como baila o bailador
Ó meu amor a caravela também
Ó bonitinha ai que é das penas, que é das mágoas
Sendo nós como a sardinha
A voar por cima das águas
Vai de roda quem quiser
E diga o que tem a dizer (Certo!)
Sonhei muitos, muitos anos por esta hora chegada
De Lisboa para a Índia vou agora de abalada
Mas em frente de Sesimbra
Logo um corsário francês
Nos atirou para Melides
Com o barco feito em três
E por Deus e por El-Rei
Que grande volta que eu dei
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó ai meu bem como baila o bailador
Ó meu amor a caravela também
Ó bonitinha ai que é das penas, que é das mágoas
Sendo nós como a sardinha
A voar por cima das águas
Ena que alegria enorme
Uns mais ou menos conforme (Certo!)
Mas que terras maravilha mais parece uma aguarela
Que eu vejo da minha barca branca, azul e amarela
A Lua dormia ali e com o Sol é tal namoro
Que as montanhas estavam prenhas e pariam prata e ouro
Com Jesus no coração faz as contas ó Fernão
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó ai meu bem como baila o bailador
Ó meu amor a caravela também
Ó bonitinha ai que é das penas, que é das mágoas
Sendo nós como a sardinha
A voar por cima das águas
Mais cuidado no bailado
Que andamos tão baralhados (Certo!)
Nunca vi bichos medonhos tão soltos e atrevidos
Que nos fomos logo a pique c'o bafo dos seus grunhidos
E todo nu sobre um penedo de mãos postas a rezar
'Té me tremiam as carnes por os não ter no lugar
'Inda por cima a chover vejam lá o meu azar
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó ai meu bem como baila o bailador
Ó meu amor a caravela também
Ó bonitinha ai que é das penas, que é das mágoas
Sendo nós como a sardinha
A voar por cima das águas
Eh valente rapazinho
A cantar ao desafio (Certo!)
Matei mouros malabares quem foi à guerra fui eu
Afundei grandes armadas nunca ninguém me venceu
Mas ao ver o cu de um mouro foi tal susto grande e forte
Qu'inté a bexiga mijei e de todo estive à morte
Siga a roda sem parar que a gente vai a voar!
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Eu cá sou dos Fonsecas
Eu cá sou dos Madureiras
De ferro e puro sangue
courses through my veins.
Nasci da paixão temporal
Do parto dos vendavais
Cresço no fragor da luta
Numa força bruta
P'ra além dos mortais
but I’ve got muitas saudades
Certas penas and desires
and that crazy anxiety
like a sin,
if I don’t see you, my love.
Olha o fado
Ora, he’s so vindictive,
Ora, he’s so patient,
Tomorrow, he’ll eat,
Today, he’ll fast,
Lying panderer,
Sweet and true,
Now, a conquerer
Now, the conquered,
Tomorrow, he’s a sailor,
Today’s, é desvalido
A passionate adventurer,
Doido e bandoleiro
We’re captains,
Somos Albuquerques
We’re lions,
Seadogs,
With our eyes on the heavens,
De cima dos chapitéus
We’re captains,
Somos Albuquerques
We’re lions,
Dos lobos dos mares
And in truth, what hurts you
Is that we don’t want to be heroes.
Eu cá sou dos Fonsecas
Eu cá sou dos Madureiras
De ferro e puro sangue
O que me corre nas veias
Nasci da paixão temporal
Do parto dos vendavais
Cresço no fragor da luta
Numa força bruta
P'ra além dos mortais
Mas tenho muitas saudades
Certas penas e desejos
E aquela louca ansiedade
Como um pecado
Meu amor se te não vejo
Olha o fado
Ora é tão vingativo
Ora é tão paciente
Amanhã é comedor
Hoje abstinente
Mentiroso alcoviteiro
Doce e verdadeiro
Uma vez conquistador
Outra vez vencido
Amanhã é navegante
Hoje é desvalido
Sensual aventureiro
Doido e bandoleiro
Somos capitães
Somos Albuquerques
Nós somos leões
Os lobos do mar
De olhos pregados nos céus
De cima dos chapitéus
Somos capitães
Somos Albuquerques
Nós somos leões
Dos lobos dos mares
E na verdade o que vos dói
É que não queremos ser heróis
Por este rio acima
Deixando para trás
A côncava funda
Of the house of smoke,
I came close to sleep,
Floating in the waters
of the rivers of heaven,
Escorre ginger and honey
Sedas porcelanas
Pepper and cinnamon
Receiving offers
of sweet music
in our ears,
As light as air,
A terra a navegar
Meu bem como eu vou
Por este rio acima
Por este rio acima
The boats are painted
With many pictures,
Descrevem varandas
E os cabelos de Inês
Desenham memórias
Ao longo da água
Enchanted forests,
Soutos laranjeiras
Campinas de trigo
Amores repartidos
Afagam as dores
Quando são sentidos
Sleeping monsters,
Na esfera do fogo
As the fish is born
Por este rio acima
My dream,
How I want you,
I don’t know,
I don’t know,
Stay a little longer,
Que eu também
Que eu também
meu bem
Por este rio acima
isto que é de uns
Também é de outros
Não é mais nem menos
Nascidos foram todos
From the sweat of the female,
From the heat of the male,
Aquilo que uns tratam
Não hão-de tratar
Outros de outra coisa
Pois o que vende o fresco
Não vende o salgado
Nem também o seco
Na terra em harmonia
Perfect and smooth
das margens do rio
Por este rio acima
My dream,
Quanto eu te quero
I don’t know
I don’t know
stay a little longer,
so do I
so do I
my love.
Por este rio acima
Deixando para trás
A côncava funda
Da casa do fumo
Cheguei perto do sonho
Flutuando nas águas
Dos rios dos céus
Escorre ginger and honey,
Sedas porcelanas
Pimenta and cinnamon
Recebendo ofertas
De músicas suaves
In our ears,
leve como o ar
A terra a navegar
Meu bem como eu vou
Por este rio acima
Por este rio acima
Deixando para trás
A côncava funda
Da casa do fumo
Cheguei perto do sonho
Flutuando nas águas
Dos rios dos céus
Escorre o gengibre e o mel
Sedas porcelanas
Pimenta e canela
Recebendo ofertas
De músicas suaves
Em nossas orelhas
leve como o ar
A terra a navegar
Meu bem como eu vou
Por este rio acima
Por este rio acima
Os barcos vão pintados
De muitas pinturas
Descrevem varandas
E os cabelos de Inês
Desenham memórias
Ao longo da água
Bosques enfeitiçados
Soutos laranjeiras
Campinas de trigo
Amores repartidos
Afagam as dores
Quando são sentidos
Monstros adormecidos
Na esfera do fogo
Como nasce a paz
Por este rio acima
Meu sonho
Quanto eu te quero
Eu nem sei
Eu nem sei
Fica um bocadinho mais
Que eu também
Que eu também
meu bem
Por este rio acima
isto que é de uns
Também é de outros
Não é mais nem menos
Nascidos foram todos
Do suor da fêmea
Do calor do macho
Aquilo que uns tratam
Não hão-de tratar
Outros de outra coisa
Pois o que vende o fresco
Não vende o salgado
Nem também o seco
Na terra em harmonia
Perfeita e suave
das margens do rio
Por este rio acima
Meu sonho
Quanto eu te quero
Eu nem sei
Eu nem sei
Fica um bocadinho mais
Que eu também
Que eu também
meu bem
Por este rio acima
Deixando para trás
A côncava funda
Da casa do fumo
Cheguei perto do sonho
Flutuando nas águas
Dos rios dos céus
Escorre o gengibre e o mel
Sedas porcelanas
Pimenta e canela
Recebendo ofertas
De músicas suaves
Em nossas orelhas
leve como o ar
A terra a navegar
Meu bem como eu vou
Por este rio acima
No cortejo of the penitent,
Vão culpados pecadores da gula
Vão culpados da sensualidade
Punished to the marrow,
Vão os tíbios and frouxos in love,
Immaculate as the Creator,
Vão culpados por abstinência
Vão culpados das suas carências
No cortejo dos penitentes
men cut their own flesh
as offerings to the heavens,
Ao mais alto de todos os céus
No cortejo dos penitentes
The priests da austera vida
tred contentes and muito enfeitados
on the ashes of the sacrificed,
and sing praises
to God.
Soften, o Lord,
the affliction of the dead,
so that they may praise you,
in quiet sleep.
No cortejo
the penitent
drink draughts of bitter drink,
urine that they then throw up,
Pela noite mal aventurada
No cortejo
Os penitentes
Eat fillets of curdled blood
Da sangria dos outros romeiros
Suavemente mutilados
and sing praises
to God.
No cortejo dos penitentes
Vão culpados pecadores da gula
Vão culpados da sensualidade
Castigados até à medula
Vão os tíbios e frouxos no amor
Imaculados como o Criador
Vão culpados por abstinência
Vão culpados das suas carências
No cortejo dos penitentes
Os homens cortam suas próprias carnes
São ofertas que fazem aos céus
Ao mais alto de todos os céus
No cortejo dos penitentes
Os sacerdotes da austera vida
Vão contentes e muito enfeitados
Sobre as cinzas dos sacrificados
E cantam louvores
Ao Deus
Abranda Senhor
A pena dos mortos
P'ra que te louvem
Com sono quieto
No cortejo
Os penitentes
Bebem tragos da bebida amarga
Da urina que depois vomitam
Pela noite mal aventurada
No cortejo
Os penitentes
Comem postas de sangue coalhado
Da sangria dos outros romeiros
Suavemente mutilados
E cantam louvores
Ao Deus
Diogo Soares,
the great general
known as the Galician,
the man of the fatal gaze,
commands sixty thousand men
from foreign lands,
conquering and fighting
for whoever will pay him the most.
Effective in his speeches,
obsequious to boot,
he won the favour
of princes and samurais.
Now he’s the governor
of the Kingdom of Pegu,
stronger than the king,
richer through masterstrokes.
In that city,
there lived a merchant
named Mambogoá,
a man of boundless fortune.
And on that day,
the day of the wedding,
one of his daughters
was marrying Manica Mandarim.
Diogo Soares passed by,
Upon learning of the party,
Congratulated the bride and groom, and their parents.
And the beautiful bride
offered him a ring
thanking him for the honour
Por gestos puros and sensuais.
Then, the Galician,
instead of keeping
due decorum,
seized her and spoke to her thus:
”Oh, beautiful girl,
you’re mine and mine alone.
You belong to no one,
to no one but me.”
Her father, Mambogoá,
upon seeing the brute
seize his daughter so firmly,
[and] hearing this insult, in fright,
raised his hands to heaven,
kneeling on the ground,
in the very picture of grief,
tearfully begging and pleading,
”I beseech you, my Lord,
out of reverence for God,
whom you adore, conceived
in the womb without blemish or sin,
don’t take my daughter,
don’t take away my treasure,
or I’ll die of paixão,
or I’ll die abandonado.”
But Diogo Soares
had the groom killed,
while he wept in the embrace of
the fear-sticken,
trembling girl.
And the bride strangled herself
with a silk ribbon
before the lustful Galician
could take her by force.
The land and the air
shook with the cries
of the weeping of the women
that were so great that they inspired fear.
And her father, Mambogoá,
Pedindo in the streets
For justiça the murderer
and the slumbering city awoke.
”People, people,
come out like thunderbolts
in the anger of the rains,
in the storm of the lash
and may fire consume
his final days
and tear apart
his flesh in the dead of night.”
In the blink of an eye,
Numa grande grita
Out of love for the afflicted,
Juntou-se ao velho o povo inteiro
with a great fury
and thirst for revenge.
They arrested Diogo Soares
and dragged him into the yard
And the people demanded
that his veins be
as empty of blood
as hell is full of it.
And as he climbed the scaffold,
he kissed every step,
half-muttering the name
of Jesus under his breath.
His son, Baltasar Soares,
who was coming from the house,
Upon seeing them
Taking his father away,
Threw himself, weeping, at his feet
E por largo tempo abraçados
locked in a mortal embrace,
”Why, my Lord, are these cruel and veangeful
people taking you away?
Why, my Lord, are these awful people
beating and killing you?”
”Ask them about my sins,
for they will tell you,
Que eu vou já de maneira
that all of this seems like a dream.”
And so many stones
landed on the victim,
that he died yelling out
the rosary of his sins,
soaked in the spit
of the hatred of men
and the animal froth
of all of the ravenous dogs.
The girls and the boys
dragged his lifeless
body through the streets,
Arrastado by the throat
And the people gave alms
that they offered to the children
giving them as if it were
a most pious and holy act.
And so end the annals
of the great general
known as the Galician,
the man of the fatal gaze.
Diogo Soares
O grande general
Chamado o Galego
O homem dos olhares fatais
Comanda sessenta mil homens
De terras estranhas
Vencendo e lutando
Por quem paga mais
Eficaz nos sermões
Insinuante pois
Ganhou a simpatia
De príncipes e samurais
Já é governador
Do reino de Pegu
Mais forte do que o rei
Mais rico por golpes mestrais
Naquela cidade
Vivia um mercador
De nome Mambogoá
De fortuna sem fim
E naquele dia
O dia das bodas
Casava uma filha
Com Manica Mandarim
Diogo Soares passou por ali
Ao saber da festa
Felicitou noivos e pais
E a noiva tão linda
Ofereceu-lhe um anel
Agradecendo a honra
Por gestos puros e sensuais
Então o galego
Em vez de guardar
O devido decoro
Prendeu-a e disse-lhe assim
Ó moça formosa
És minha, só minha
A ninguém pertences
A ninguém, senão a mim.
O pai Mambogoá
Ao ver pegar o bruto
Tão rijo na filha
Ouvindo este insulto de espanto
Levantou as mãos aos céus
Os joelhos em terra
No retrato da dor
Pedindo e implorando num pranto
Eu peço-te Senhor
Por reverência a Deus
Que adoras concebido
No ventre sem mancha e pecado
Não tomes minha filha
Não leves meu tesouro
Que eu morro de paixão
Que eu morro tão abandonado
Mas Diogo Soares
Mandou matar o noivo
Que chorava abraçado
À moça assustada
Tremendo
E a noiva estrangulou-se
Numa fita de seda
Antes que a possuísse
À força o sensual galego
A terra e os ares
Tremeram com os gritos
Do choro das mulheres
Tamanhos que metiam medo
E o pai Mambogoá
Pedindo pelas ruas
Justiça ao assassino
Acorda a cidade em sossego
Ó gentes, ó gentes
Saí como raios
Na ira das chuvas
Na ventania do açoite
E o fogo consuma
Seus últimos dias
E lhe despedace
As carnes no meio da noite
Em menos de um credo
Numa grande grita
P'lo amor dos aflitos
Juntou-se ao velho o povo inteiro
Com tamanho furor
E sede de vingança
Arrastaram-no preso
Diogo Soares ao terreiro
E o povo a clamar
Que a sua veia seja
Tão vazia de sangue
De quanto está o inferno cheio
E subiu ao cadafalso
Cada degrau beijou
Murmurando baixinho
O nome de Jesus a meio
Seu filho Baltasar Soares
Que vinha de casa
O qual vendo assim
Levar seu pai
Lançou-se aos seus pés a chorar
E por largo tempo abraçados
No abraço dos mortais
Senhor porque vos levam
Cruéis e vingativos
Senhor porque vos batem
E porque vos matam medonhos?
Pergunta-o aos meus pecados
Que eles to dirão
Que eu vou já de maneira
Que tudo me parece um sonho
E foram tantas pedras
Sobre o padacente
Que este morreu bramindo
O rosário dos seus pecados
Ensopado na baba
Do ódio dos homens
Escuma animal
De todos os cães esfaimados
As crianças e os moços
Trouxeram seu corpo
Sem vida pelas ruas
Arrastado pela garganta
E a gente dava esmola
Oferecida aos meninos
Dava como se fosse
Uma obra muito pia e santa
Assim terminam os anais
Do grande general
Chamado o Galego
O homem dos olhares fatais
Sail, sail
Mas ó minha cana verde
Mergulhar no your body,
Between four walls,
To give you a kiss and stay
sink to the bottom and come back up
oh, my green cane.
Sail, sail
Those who conquer, always steal,
those who covet, never give,
those who oppress, tyrannize,
Naufraga a thousand times,
Bonita eu sei lá
I walk with fetters on my feet,
I walk with cuffs on my hands,
a collar around my neck,
lost and found,
sold at auction,
I was the merchandise
Lá na praça do Mocá
Quase às avé-marias
in the bottomless depths of the sea.
Navegar navegar...
Navegar navegar
Mas ó minha cana verde
Mergulhar no teu corpo
Entre quatro paredes
Dar-te um beijo e ficar
Ir ao fundo e voltar
Ó minha cana verde
Navegar navegar
Quem conquista sempre rouba
Quem cobiça nunca dá
Quem oprime tiraniza
Naufraga mil vezes
Bonita eu sei lá
Já vou de grilhões nos pés
Já vou de algemas nas mãos
De colares ao pescoço
Perdido e achado
Vendido em leilão
Eu já fui a mercadoria
Lá na praça do Mocá
Quase às avé-marias
Nos abismos do mar
Navegar navegar...
Oh sea!
Leva everything that life has given me,
Everything that time forgot,
Leva que eu vou voltar
Oh sea!
Like one who comes forth
and returns to the depths
of his mother’s womb.
Tão indiferente
Consumiste na força bravia
Todo o encanto das coisas que havia
E lançaste na praia ardente
Náuseas and plagues,
Spoils of souls,
As carnes em chagas
As mágoas
And you condemned me to a night
of blood and fire,
and wind and shadows,
Ao teu quebranto
but at least let
my naked body rest.
Ó Mar!
A huge lake of salty oceans,
Onde os rios também naufragados
Find their rest at last.
Ó Mar!
Tecem murmúrios
Sensuais
Como os amantes
Depois!
They rest in peace.
Ó Mar!
Leva tudo o que a vida me deu
Tudo aquilo que o tempo esqueceu
Leva que eu vou voltar
Ó Mar!
Como quem vem
E regressa ao fundo
Do ventre da mãe
Tão indiferente
Consumiste na força bravia
Todo o encanto das coisas que havia
E lançaste na praia ardente
Náuseas e pragas
Despojos de almas
As carnes em chagas
As mágoas
Condenaste-me à noite
De sangue e fogo
E vento e sombras
Ao teu quebranto
Mas deixa-me ao menos
O corpo despido em descanso
Ó Mar!
Lago imenso de oceanos salgados
Onde os rios também naufragados
Vão por fim descansar
Ó Mar!
Tecem murmúrios
Sensuais
Como os amantes
Depois!
Repousam em paz
Lembra-me um sonho lindo, quase acabado
Lembra-me um céu aberto, outro fechado
Estala-me a veia em sangue, estrangulada
Estoira no peito um grito, à desfilada
Sing, nightingale, sing, não me dês penas
Grow, sunflower, grow among lilies,
Afaga-me my whole body, if I belong to you
Rasga-me o ventre, burning in incense smoke
It reminds me of a beautiful dream that’s almost ended,
It reminds me of an open sky, then a closed one,
Estala-me a veia em sangue, strangled
A cry explodes in my chest, à desfilada
Oh! How I love you! Oh! De madrugada!
Oh! Alma da terra! Oh! Linda, assim deitada!
Oh! How I love you! Oh! Tão sossegada!
Oh! I’ll kiss your body! Oh! Seara tão desejada!
Lembra-me um sonho lindo, quase acabado
Lembra-me um céu aberto, outro fechado
Estala-me a veia em sangue, estrangulada
Estoira no peito um grito, à desfilada
Canta, rouxinol, canta, não me dês penas
Cresce, girassol, cresce entre açucenas
Afaga-me o corpo todo, se te pertenço
Rasga-me o ventre ardendo em fumo de incenso
Lembra-me um sonho lindo, quase acabado
Lembra-me um céu aberto, outro fechado
Estala-me a veia em sangue, estrangulada
Estoira no peito um grito, à desfilada
Ai! Como eu te quero! Ai! De madrugada!
Ai! Alma da terra! Ai! Linda, assim deitada!
Ai! Como eu te amo! Ai! Tão sossegada!
Ai! Beijo-te o corpo! Ai! Seara tão desejada!
When, at times, I set before my eyes
the frightful Lusitanian voyage that I undertook,
the torments I endured and fates I wept,
my body burns in prayer, between sin and forgiveness,
my heart grows heavy and my body burns.
From the elbow of the earth to the eyelash of the world,
I was captured thirteen times, sold seventeen,
The seas killed thousands in a single groan,
Wretched me, I’m a missionary,
Foge cafre now I’m a pirate,
a volunteer sailor,
wretched me.
Quando às vezes ponho before my eyes,
the raging of the tremendous wave split by the wind,
O assombro da fronha of a monster,
Que horrenda estampada in the darkness
Oh my God, o aperto em que estou
See the copper and the gold,
See how foolish I am,
The treasure’s escaping,
Que me dá a fraqueza
Enriquece bandido
Nostalgia for the Tagus,
O inventário da presa
Give me a kiss, my love,
Afasta-o do sentido
E lá vou eu desvalido
Quando às vezes ponho diante dos olhos
the awful toils, the dangers I endured,
the hell, the accursed hell that I faced,
a prayer comes to my mouth,
my whole soul trembles,
Burns, cries out,
Enlouquece
E vem à boca
Um amargo de morte arrefece-me o corpo
A great fear,
My God,
Que estala in my chest,
Only my heart breathes perfect loves
Que eu nem conto in secret,
Que eu risquei do enredo
Num latino arremedo
Que eu nem conto
Quando às vezes ponho diante dos olhos
Snakes,
Lizards,
Monsters,
Horríveis
Sarnentos
O delírio of the rivers,
Of the sweltering jungles,
Of burning fever,
A matar
Terra à vista
Atenção
Espia como mercador
Eu cá sou benfeitor
Assalta like a thief,
Olha o rombo na quilha
See your quadrilha
Quem me dera estar longe
Empunha o machado
To be an angel, a monk.
Aguenta safado
Sendo o mais enjeitado
From Lisbon to India,
from Tartary to Siam,
from China to Ethopia,
from Hormuz to Japan,
P' lo Cabo do Mundo
Passei por um triz
from the Malay Peninsula
to Araby the Blest,
São de todas as cores
As paixões os ardores
Na voragem do cio
O amor aplacado
Entre esteiras deitado
On the deck of the ship,
Vai o sonho entornado
Quando às vezes ponho diante dos olhos
The wars,
Assaults and cries,
Blood rushing
Overflowing,
The Turks
Blessed Lady,
Thrown into the sea,
A afundar
Tangendo panelas
P'ró diabo que os leve
You blabbering heathens.
Filhos de Mafamede,
Ai da your blindness.
Dispara O roqueiro
No rescaldo da afronta
Muzzle the slave,
Rezo pela desconta
És cruzado és um bravo
With countless sins.
From Lisbon to India,
from Tartary to Siam,
from China to Ethiopia,
from Hormuz to Japan,
P' lo Cabo do Mundo
Passei por um triz
from the Malay Peninsula
to Araby the Blest,
São de todas as cores
The passions, the longings,
Na voragem of heat,
O amor aplacado
Entre esteiras deitado
on the deck of the ship,
Vai o sonho entornado
Foi de fio a pavio
P'ró diabo que os leve
Blabbering heathens,
Children of Mafamede
woe to your blindness,
Dispara o roqueiro
muzzle the slave,
you’re a crusader, you’re a hero,
spy like a merchant,
strike like a thief,
see the leak in the keel,
grab hold of the axe,
Olha a tua quadrilha
Aguenta safado
Dos pecados sem conta
És o mais enjeitado
O aperto em que estás
See the copper and gold,
The treasure’s escaping
Que te dá a fraqueza
Enriquece bandido
No rescaldo da afronta
Ai quem te dera estar longe
To be an angel, be a monk,
Reza pela desconta
Entre apupos e gritas
With hands raised high,
The good Jesuit trembles,
Ai Jesus que embrulhada
Em pouco mais de dois credos
Two thousand are dead on the ground,
A million are fighting,
drowning in blood
Estalam mil bofetadas
No traseiro de um cafre
Buzzards fly overhead,
Six heads rachadas
many wounds and sores,
in a great slaughter,
Amidst insults and plagues,
Pots of urine rain down,
Twenty three drowned,
Thirty four lost,
Naked and on their knees,
Sem contar os aflitos
Pelas pernas abaixo
Vai o pobre de mim
From Kedah to Sumatra,
From Malacca to Peking,
Fugindo a sete pés
When the quarterdeck explodes,
The gold is lost, our profits,
The fine silver, health,
But holy glory help me
Give thanks to God
for his infinite mercy
Pois eu não me lamento
if, after so many torments,
I have escaped from them alive.
May the Lord be praised,
holy apostles,
let me live among mortals,
for I deserve no better
for my great sins.
Quando às vezes ponho diante dos olhos
A lusitana viagem medonha que eu dobrei
Os tormentos passados e os fados que chorei
Arde o corpo em oração entre pecado e perdão
Agonia o coração e arde o corpo
Do cotovelo da terra á pestana do mundo
Fui treze vezes cativo dezassete vendido
Mataram os mares milhares num gemido
Ai de mim sou missionário
Foge cafre já sou corsário
Marinheiro voluntário
Ai de mim
Quando às vezes ponho diante dos olhos
A fúria da onda tremenda rasgada no vento
O assombro da fronha de um monstro
Que horrenda estampada no breu
Ai meu Deus o aperto em que estou
Olha o cobre e o ouro
Olha o bobo que eu sou
Que se escapa o tesouro
Que me dá a fraqueza
Enriquece bandido
A saudade do Tejo
O inventário da presa
Meu amor dá-me um beijo
Afasta-o do sentido
E lá vou eu desvalido
Quando às vezes ponho diante dos olhos
Os trabalhos tremendos, os perigos que passei
O Inferno maldito Infinito que afrontei
Vem à boca uma prece
A alma inteira estremece
Arde
Grita
Enlouquece
E vem à boca
Um amargo de morte arrefece-me o corpo
Um grande medo
Meu Deus
Que estala no peito
Só o meu coração respira amores perfeitos
Que eu nem conto em segredo
Que eu risquei do enredo
Num latino arremedo
Que eu nem conto
Quando às vezes ponho diante dos olhos
Cobras
Lagartos
Mostrengos
Horríveis
Sarnentos
O delírio dos rios
Das selvas ardentes
Da febre a queimar
A matar
Terra à vista
Atenção
Espia como mercador
Eu cá sou benfeitor
Assalta como ladrão
Olha o rombo na quilha
Olha a tua quadrilha
Quem me dera estar longe
Empunha o machado
Ser um anjo ser monge
Aguenta safado
Sendo o mais enjeitado
De Lisboa prá Índia
Da Tartária ao Sião
Da China à Etiópia
De Ormuz ao Japão
P' lo Cabo do Mundo
Passei por um triz
Da Ilha Maluca
À Arábia Feliz
São de todas as cores
As paixões os ardores
Na voragem do cio
O amor aplacado
Entre esteiras deitado
No porão do navio
Vai o sonho entornado
Quando às vezes ponho diante dos olhos
As guerras
Assaltos e gritas
O sangue a jorrar
A alagar
Os turcos
Senhora bendita
Lançados ao mar
A afundar
Tangendo panelas
P'ró diabo que os leve
Infiéis tagarelas
Filhos de Mafamede
Ai da vossa cegueira
Dispara O roqueiro
No rescaldo da afronta
Amordaça o escravo
Rezo pela desconta
És cruzado és um bravo
Dos pecados sem conta
De Lisboa p' rá Índia
Da Tartária ao Sião
Da China à Etiópia
De Ormuz ao Japão
P' lo Cabo do Mundo
Passei por um triz
Da Ilha Maluca
À Arábia Feliz
São de todas as cores
As paixões os ardores
Na voragem do cio
O amor aplacado
Entre esteiras deitado
No porão do navio
Vai o sonho entornado
Foi de fio a pavio
P'ró diabo que os leve
Infiéis tagarelas
Filhos de Mafamede
Ai da vossa cegueira
Dispara o roqueiro
Amordaça o escravo
És cruzado és um bravo
Espia como mercador
Assalta como ladrão
Olha o rombo na quilha
Empunha o machado
Olha a tua quadrilha
Aguenta safado
Dos pecados sem conta
És o mais enjeitado
O aperto em que estás
Olha o cobre e o ouro
Que se escapa o tesouro
Que te dá a fraqueza
Enriquece bandido
No rescaldo da afronta
Ai quem te dera estar longe
Ser um anjo ser monge
Reza pela desconta
Entre apupos e gritas
De mãos alevantadas
Treme o bom jesuíta
Ai Jesus que embrulhada
Em pouco mais de dois credos
Dois mil mortos no chão
Pelejando um milhão
Soçobrados em sangue
Estalam mil bofetadas
No traseiro de um cafre
Sobrevoa o milhafre
Seis cabeças rachadas
Muitas feridas e chagas
Numa grande chacina
Entre insultos e pragas
Chovem panelas de urina
Vinte e três afogados
Trinta e quatro perdidos
Nus e ajoelhados
Sem contar os aflitos
Pelas pernas abaixo
Vai o pobre de mim
De Quedá a Samatra
De Malaca a Pequim
Fugindo a sete pés
Quando estoira o convés
Perde-se ouro o provento
A prata fina a saúde
Mas glória santa me ajude
A dar graças a Deus
Misericórdia infinita
Pois eu não me lamento
Se ao fim de tantos tormentos
Escapei deles com vida
O Senhor seja louvado
Santos apostolados
Viva eu entre os mortais
Pois não mereci mais
Por meus grandes pecados